No fim de maio, o projeto foi
apresentado a empresas do município e, ainda neste mês, outro encontro deverá
ser realizado com fabricantes de autopeças, desta vez na capital paulista.
A definição dos fornecedores é
importante para que a Chery comece a desenvolver com eles os modelos - ainda
não anunciados - a serem produzidos a partir do ano que vem na fábrica, a
primeira fora da China em que o grupo tem 100% de controle.
A depender dos resultados dessas
negociações, entre oito e vinte fornecedores poderão vir a se instalar no
entorno da unidade, sendo boa parte deles para dentro do complexo que ocupa uma
área de um milhão de metros quadrados.
"A área ao redor é bastante
ampla. Não teremos problema de espaço", diz Luis Curi, empresário
responsável por introduzir a Chery no mercado brasileiro e que agora, na função
de diretor comercial, se tornou o principal interlocutor de origem brasileira
nas mais diversas gestões envolvidas na implantação de um grande projeto.
Ele passou os últimos dias
apresentando o andamento das obras para autoridades da província de Anhuí, onde
está a sede da Chery Automobile, e representantes do Banco de Desenvolvimento
Econômico da China, um dos financiadores da fábrica. Também tem dedicado parte
de seu tempo a mostrar o projeto aos primeiros empresários interessados em
suprir componentes à futura fábrica.
A aproximação da Chery com a
indústria de autopeças está na gênese de um novo polo automobilístico nacional.
Fora o projeto do grupo chinês, outros três grandes centros automotivos estão
em formação no entorno de fábricas erguidas pela Hyundai, em Piracicaba (SP);
Toyota, em Sorocaba (SP); e Fiat, que vai produzir mais de 200 mil carros por
ano em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco.
Os quatro novos polos mobilizam
uma centena de empresas e somam investimentos estimados em mais de R$ 10
bilhões - sem falar de outros projetos importantes conduzidos em regiões onde
já existe alguma cadeia de suprimento, caso da JAC Motors, em Camaçari (BA).
Os empreendimentos imprimem uma
nova dinâmica econômica a essas cidades, que passam a assistir ao surgimento de
distritos industriais e loteamentos residenciais ou comerciais ao redor das
fábricas - algo que, muitas vezes, tem levado a revisões no Plano Diretor dos
municípios.
Essa transformação tem avançado a
passos largos em Goiana. De uma economia historicamente sustentada pela cultura
da cana-de-açúcar, a região se tornou foco de investimentos da cadeia
metal-mecânica e de grandes empreendimentos imobiliários desde que a Fiat
decidiu instalar sua fábrica na região.
Em uma área de 600 hectares
adjacente à fábrica, está prevista a construção de um complexo que comportará
18 mil residências, suficiente para até 60 mil habitantes. O projeto - cujo
investimento é estimado em R$ 3 bilhões - foi lançado pela Queiroz Galvão e
mais três empresas: Grupo Moura, GL Empreendimentos e Cavalcanti Petribu. Outro
bairro planejado - avaliado em R$ 1 bilhão - prevê mais 2,2 mil residências na
mesma cidade.
Mesmo em cidades como Piracicaba
- onde existe uma indústria metal-mecânica bem desenvolvida, com a presença de
gigantes multinacionais como a Caterpillar -, a chegada de uma fábrica de
automóveis muda a paisagem de zonas antes dominadas por produtores rurais.
"Os donos de terras decidiram dar outra atividade para suas propriedades
além da plantação de cana", afirma o secretário municipal de governo, José
Antonio Godoy, ao comentar o avanço de loteamentos residenciais e industriais
sobre o canavial.
Em Goiana, a Fiat, a exemplo da
Chery, ainda está prospectando os fornecedores de sua nova fábrica. Autoridades
locais acreditam que o projeto vai atrair ao menos 60 empresas para a região. A
referência é a fábrica da montadora em Betim (MG), que transformou a região no
segundo maior polo automobilístico do país, ao atrair 65% dos fornecedores para
um raio de 150 quilômetros da fábrica.
Dentro de um complexo de 14
milhões de metros quadrados, a Fiat terá uma área de 500 mil metros quadrados
dedicada ao parque de fornecedores. A empresa diz que as negociações com
sistemistas estão em andamento e que ainda não definiu seus fornecedores. Mas,
na cola do investimento, algumas empresas se adiantaram em anunciar novas
fábricas na região, caso da Takata, fornecedora de sistemas de airbags, e da
WHB, fabricante de virabrequins.
Além da aposta na capacidade de o
mercado automobilístico continuar renovando recordes nos próximos anos, a
integração entre montadoras e a indústria de autopeças tem como pano de fundo a
política do governo desenhada para o setor, que atrelou benefícios tributários
ao uso de conteúdo regional e investimentos em inovação. E, claro, também
existem motivações ligadas à redução dos custos de logística e eficiência das
operações.
A Hyundai trouxe dez fornecedores
para Piracicaba. Três deles foram instalados ao lado da fábrica. Paralelamente,
a montadora coreana fechou contrato com outros 21 fornecedores brasileiros para
suprir a unidade. Segundo estimativas da Prefeitura de Piracicaba, os
investimentos da indústria de autopeças para atender às necessidades da
montadora coreana são de aproximadamente US$ 250 milhões.
Por sua vez, a Toyota, em
Sorocaba, montou um parque de onze fornecedores de componentes, que também
inclui outra empresa de prestação de serviços. A montadora japonesa concedeu a
eles uma área de 450 mil metros quadrados dentro do complexo, onde serão
produzidos inicialmente 70 mil carros por ano.
Na semana passada, a Toyota
anunciou o início das atividades de pré-lançamento do compacto a ser produzido
no local, o Etios. Potenciais consumidores estão recebendo malas-diretas que
apresentam o novo carro. Dentro da ação, as 133 concessionárias da rede vão
receber um espaço exclusivo para receber os interessados no modelo.
Mario Tanigawa, secretário de
desenvolvimento em Sorocaba, diz que, nos últimos anos, cerca de US$ 1,2 bilhão
foram investidos no município pela indústria de veículos. Metade do montante
corresponde ao aporte feito pela japonesa Toyota.
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